os cortes nas artes em tempos de crise

parece que uma vez identificado que se está “em tempos de crise”, há uma corrida institucional para cortar certos tipos de financiamentos. em geral, esses cortes não parecem ser planejados de acordo com uma racionalidade econômica efetiva ou de acordo com um plano social coerente. em uma batalha por verbas, é muitas vezes verdade que o elo mais fraco perde, e que aqueles que perdem tendem cada vez a perder mais. mas me ocorreu que os cortes nas áreas artísticas e de cultura, áreas cujos orçamentos já são reduzidos e que em instâncias não impactam de modo relevante na soma total das contas, possa ter também outro tipo de significação. pois não terá esse tipo de corte, que se espalha de modo quase-epidêmico, um valor simbólico e uma efetividade especial no âmbito do enxugamento dos orçamentos?

penso que os gestores podem ter percebido que, ao cortar no financiamento artístico, cortam muito pouco em termos de montante, mas com isso já geram comoções cujo tamanho e visibilidade são suficientes para que a ação tenha valido a pena – com um mínimo de alteração efetiva, provocam um máximo de sensação de ação. como se os protestos e as acusações que seguem pudessem servir de bode expiatório para o fato de que não se corta de maneira racional nem segundo uma lógica de bem estar social, mas muito menos de uma maneira que lide com os problemas orçamentários reais. e a dupla valoração da arte a isso contribui da seguinte forma: seu valor humanista é muito grande – ela motiva defesas acalouradas; entretanto seu valor mercadológico é muito pequeno, de modo que eventos e iniciativas inteiras podem vir a extinguir-se em meio a falta de continuidade de aporte. seu valor total é sempre incerto, a oscilar entre um alto valor ideal, entre o estético e o ético, e um valor real baixo, de uma vontade de investimento baixa e efetividade duvidosa.


postado em 2 de novembro de 2017, categoria comentários : , , , , , ,

watashi wa watashi

“eu sou eu” – essa frase repetida como bordão, como resposta existencial. qual o estranho fascínio de neon genesis evangelion e guilty crown pelo existencialismo? (vou deixar o estranho fascínio pela família psicanalítica de lado, por não me interessar tanto). essência, caráter, projeto, destino, existência. watashi wa watashi. tenho a capacidade de escolher ser aquele que toma suas ações para si; aquele que, em face do mundo, escolhe ser responsável por suas próprias ações. não há ilusão nisso – se é uma máscara ou uma casca, se o eu é uma miragem, o modo de vida que a afirmação trás, seu tom trágico, é real. shinji e shu. nem ayanami rei nem yuzuriha inori são simplesmente clones, ferramentas, monstros, construções. a existência acaba as humanizando. transumanismo desconstruído. na borda do sonho demasiado humano da tábula rasa, sonho que resultaria enfim em um inumanismo generalizado, a descoberta do humano através das mulheres-ciborgues. essa figura do amor japonês.

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e até que ponto gc, de 2011, não é uma retomada do nge, de 1995? e para dar outro exemplo, a relação entre tima e kenichi, em metrópoles de osamu tezuka. todas as 3 personagens femininas são muito mais interessantes do que o par deckard e rachel, de blade runner. i can’t stop loving you.


postado em 27 de março de 2015, categoria comentários : , , , , , , , , , , , , , , , , , ,