para além ou aquém

é o real.

{em anti-édipo, deleuze e guattari escrevem:

Isto porque o próprio inconsciente não é estrutural e nem pessoal; ele não simboliza, assim como não imagina e nem figura: ele maquina, é maquínico. Nem imaginário nem simbólico, ele é o Real em si mesmo, o “real impossível” e sua produção.

editora 34, 2010, p.75-6}


postado em 31 de julho de 2014, categoria aforismos : , , , , ,

morte zero

ultramorte, megamorte, multimorte, nanomorte, nove mihões de maneiras de morrer (nine million ways to die); qual a morte mais mortal? mas não seria essa pergunta justamente descabida? pois não era a morte que estava do lado da diferença e se bifurcou, dando origem à vida, esta sim, com suas inúmeras variações de grau?

lendo land (the thirst for anihilation: georges bataille and virulent nihilism, routledge, 1992), capítulo 9, “abortando a raça humana”, são figurados outros tantos bergsonismos: matéria e espírito, natureza e cultura, caos e ordem, zero e plenitude, forças ativas e reativas, inorgânico e orgânico, guerra e indústria.

To set up the question of difference as a conflict between the one and the many is a massive strategic blunder – the Occident lost its way at this point – the real issue is not one or many, but many and zero. [147]

se esses dualismos remetem a monismos, esses monismos devem remeter ao grande e imenso zero (o próprio zero também), à diferença diferenciante.

{de um modo bastante ingênuo eu esperava que land fosse um deleuzeano que descontaminasse o deleuzianismo de seu bergsonismo}


postado em 16 de junho de 2014, categoria excertos, livros : , , , , , , , ,

no suposto dia da mulher

já que as mulheres ainda são minorias (no sentido deleuziano – já que são os homens que podem devir-mulher), há, dizem (meu conhecimento é parco, apenas olhei no facebook) um dia das mulheres. nessa linha, na minha lista de leitura desse ano, estão joanna russ – the female man, e também judith butler – gender problem. a partir de luce irigaray e monique wittig, criticando ferozmente o patriarcalismo europeu kantiano, nick land, esse deleuziano maldito, escreve, no primeiro ensaio da coleção fanged noumena (kant, capital, and the prohibition of incest, 2012, urbanomic – p. 55-80, primeiro publicado em 1989).

[77] The patronymic has irrecoverably divested all the women who fall under it of any recourse to an ethno-geographical identity; only the twin powers of father and husband suppress the nomadism of the anonimous female fluxes that patriarchy oppressively manipulates, violates, and psychiatrizes. By aloowing women some access to wealth and social prestige the liberalization of patriarchy has sought to defuse the explosive force of this anonymity, just as capital has tended to reduce the voluptuous excess of exogamic conjugation to the stability of nationality segmented trading circuits. The increasingly incestual character of economic order – reaching its zenith in racist xenophobia – is easily masked as a series of ‘feminist’ reforms of patriarchy; as a de-commodification of woman, a diminution of the obliterating effects of the patronymic, and a return to the mother. This is the sentimental ‘feminism’ that Nietzsche despised, and [78] whose petit-bourgeois nationalist implications he clearly saw. (…) The woman of the earth are segmented only by their fathers and husbands. Their praxial fusion is indistinguishable from the struggle against the micropowers that suppress them most immediately. That is why the proto-fascism of nationality laws and immigration controls tend to have a sexist character as well as a racist one. It is because women are the historical realization of the potentially euphoric synthetic or communicative function which patriarchy both exploits and inhibts that they are invested with a revolutionary destiny, and it is only through their struggle that politics will be able to escape from all fatherlands.

[79] If feminist struggles have been constantly deprioritized in theory and practice it is surely because of their idealistc recoil from the currency of violence, which is to say, from the only definitive ‘matter’ of politics. The state apparatus of an advanced industrial society can certainly not be defeated without a willingness to escalate the cycle of violence without limit. It is a terrible fact that atrocity is not the perversion, but the very motor of such struggles: the language of inexorable political will. A revolutionary war against a modern metropolitan state can only be fought in hell. It is a harsh truth that has deflected Western politics into an increasingly servile reformism, whilst transforming nationalist struggles into the sole arena of vigorous contention against particular configurations of capital. But, as I hope I have demonstrated, such nationalist struggles are relevant only to the geographical modulation of capital, and not to the radical [80] jeopardizing of neo-colonialism (inhibited synthesis) as such. (…) With the abolition of the inhibition of synthesis – of Kantian thought – a sordid cowardice will be washed away, anda cowardice is the enfine of greed. But the only conceivable end of Kantianism is the end of modernity, and to reach this we must foster new Amazons in our midst.

(ainda acho uma visão masculina demais, no sentido da projeção de esperanças, do sonho da redenção – mesmo que no descontrole, na aceleração das intensidades)


postado em 8 de março de 2014, categoria excertos : , , , , , , , , , , ,

duas ilhas

1. maya deren, at land (1944).

2. excerto de “causas e razões das ilhas desertas”, de gilles deleuze, trad. de luiz b. l. orlandi. em: a ilha deserta e outros textos: textos e entrevistas (1953-1974). são paulo, iluminuras, 2010.

sonhar ilhas, com angústia ou alegria, pouco importa, é sonhar que se está separando, ou que já se está separado, longe dos continentes, que se está só ou perdido; ou então, é sonhar que se parte de zero, que se recria, que se recomeça. havia ilhas derivadas, mas a ilha é também aquilo em direção ao que se deriva; e havia ilhas originárias, mas a ilha é também a origem, a origem radical e absoluta.

(…) já não é a ilha que se separou do continente, é o homem que, estando sobre a ilha, encontra-se separado do mundo. Já não é a ilha que se cria do fundo da terra através das águas, é o homem que recria o mundo a partir da ilha e sobre as águas. então, por sua conta, o homem retoma um e outro dos movimentos da ilha e o assume sobre uma ilha que, justamente, não tem esse movimento: pode-se derivar em direção a uma ilha original, e criar numa ilha tão-somente derivada.

ela é origem, mas origem segunda. a partir dela tudo recomeça. a ilha é o mínimo necessário para esse recomeço, o material sobrevivente da primeira origem, o núcleo (…) que deve bastar para re-produzir tudo.

 


postado em 23 de setembro de 2012, categoria Uncategorized : , , , , , , ,

uma pequena lista de pensamentos pouco usuais (para auditar)

1. nossa, que rizominha legal.

2. por causa da micropolítica do poder.

3. ele vive numa mônada nua.

4. essa heteronomia é minha.

5. tá lá, no seu momento (de verdade).

6. ela está cheia de vontade (de potência).

7. retornei, é o eterno-retorno. 

8. na estação de taxi sublunar.


postado em 2 de agosto de 2012, categoria Uncategorized : , , , , , , , ,

deleuze e o plano de imanência

A frustração trazida pela compreensão enfim do que é o plano de imanência em Deleuze: sua filosofia é de fato um sistema de pensamento. Ao plano do puro potencial já foram traçados os planos de consistência e organização, o grau zero do corpo sem orgãos é um imaterial, um abstrato, nossos orgãos já se desenvolveram, se funcionalizaram, traçaram planos próprios, individualizaram nossas percepções: como diria William Blake, a unidade foi perdida.

E esses órgãos, individualizados, traçam no máximo planos homogeinizados por uma qualidade (física, perceptiva ou de afeto), mas impedem o contínuo do físico ao afetivo, a aglutinação impensável de um sentido em outro. É como se tudo pudesse ser de outra forma, mas não é. Entre o grande Destino e o estar aberto ao Caos, apenas um modo de dizer.

E no entanto, como discordar, como não dizer que as leis da natureza são apenas hábitos enraizados?


postado em 11 de setembro de 2011, categoria Uncategorized : , ,