ao invés de adiar, viver o fim do mundo

“então, talvez o que a gente tenha de fazer é um paraquedas. não eliminar a queda, mas inventar e fabricar milhares de paraquedas coloridos, divertidos, inclusive prazerosos.” diz krenak num livrinho com 3 palestras curtas (ideias para adiar o fim do mundo). é uma mensagem de que é preciso viver bem o fim do mundo, passar por ele bem, ou melhor, perdurar e conviver com ele. porque um fim do mundo da civilização é necessário, mas há uma tragédia dentro dele que deve ser evitada, que é a tragédia da vida mal vivida, enquanto esse fim acontece.

apesar dos tons eminentemente cristãos, poderíamos dizer “apocalipse, não fim do mundo”. isto é, desvelamento, revelação. mas, como é viver dentro do desvelamento, da revelação? talvez seja como cair.


postado em 9 de maio de 2020, categoria comentários, livros : , ,

já houve n fins de mundo

nunca dei muita bola para os escritos do viveiros de castro. gostei de um ou outro artigo do inconstância, se é que os li direito, mas odiei o tom ácido e publicitário (“farei um livro, o anti-narciso”) do metafísicas. quando li o há mundo por vir?, junto de danowski, tive outra impressão. talvez primeiro porque a parceria tenha atenuado um pouco o tom blasfêmio, “anatemista”. se bem que espantalhos e aquele clima de “erro sobre porque desprezo meu inimigo” continuam. então poderia ser outra coisa. talvez porque há indicações interessantes – um livro do tarde, um filme do ferrara, e ainda a incitação à leitura do livrão do kopenawa. mas isso ainda seria pouco.

acho que a contraposição entre as concepções excepcionalistas do humano e o entendimento perspectivista / panpsiquista fizeram especial sentido aqui. porque se os perspectivistas têm o humano como um tipo de relação, móvel, dependente de perspectiva, com a predação como fator fundante, isso torna-se mais interessante quando lembramos da análise do anti-édipo de deleuze/guattari. pois existem técnicas que as tribos da floresta etc empregam para impedir que sua civilização mude de escala. e isso se contrapõe muito bem, como forma de pensar, a um pensamento ambíguo em relação à técnica, como o de heidegger, em que ou o humano quer manter-se longe das consequências da revolução industrial, mas não possui uma técnica social para tal (o resgate da poiesis sendo claramente insuficiente); ou milagrosamente o perigo abrirá uma outra via (mas começamos a ver que antes disso haverá o apocalipse antropocênico).

e sobre esse apocalipse, eles apresentam um dado que não deixa de ser reconfortante: já houveram inúmeros fins do mundo. este novo fim só o é em maior escala, ou ainda, na escala daqueles que se consideram vencedores, destruidores de todos os outros mundos. pois inúmeras sociedades já enfrentaram seus fins do mundo, ou ainda vivem num fim do mundo que se alastra. muitos humanos vivem jogados na precariedade existencial, arrastados pela decadência de uma terra e cosmologia arrasada.


postado em 9 de dezembro de 2019, categoria livros : , , , , ,

feliz mundo novo

1. ontem o mundo velho acabou. hoje um novo começou. feliz mundo novo.

2. a transição drástica, embora possivelmente imperceptivelmente drástica, se deu num átimo, num instante.

3. sugiro um novo nome para o mundo, qual seja: “undo”.

4. dado que o undo passado findou, sendo este agora o verdadeiro undo, e sendo o primeiro dia do undo, hoje é o primeiro de janeiro do novo janeiro do novo ano primeiro do undo (aqui chamado de “um do um de zero zero zero zero”).

5. consequentemente, não haverá natal, nem ano novo, a não ser que, por hábito, sejam mantidos; de qualquer forma, ocuparão a posição habitual no calendário, que de todo, permanece estruturalmente o mesmo, ou seja – só haverá natal e ano novo em dezembro do ano 0000, daqui a pelo menos onze meses.

(fica assim cancelado o natal e ano novo, como consequência do fim do antigo undo; dada a inexorável imperceptibilidade do evento, ainda assim, por descuido, são previstas ocorrências de atais e anos ovos nos próximos dias)

6. parece mais adequado, ademais, que os dias tenham 22 horas de duração, denominadas “oras” dado o estado do undo, de modo que um dia tenha 22 oras.

7. a desaceleração mental procedente envolve a rede de unidades do mundo: 1 egundo será, aproximandamente e de modo correspondente, 91.67 por cento mais lento que o segundo.

8. 60 b.p.i. é, portanto, equivalente ao antigo 55 b.p.m.; os metrônomos todos e relógios deverão ser refabricados.

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legenda: [mito do recomeço] / [teoria da transição como uma mônada nua] / [valoração nominalista] / [proposição de translação dos dias em 11 unidades] / [consequente] / [proposição de uma estrutura equiparada redutiva] / [consequente] / [consequente]

 


postado em 22 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : , , ,

fim do mundo (de novo), a piada

não se preocupem, antes que ele acabe, eu me mato.


postado em 21 de dezembro de 2012, categoria Uncategorized : , , ,