the neonazi turn

1.
é cristão mas vota em bolsonaro
e agora cristãos não podem ser neonazistas?

2.
meu jesus é o da espada
o meu não comunga com o diabo

3.
em defesa da família
(de deus e da pátria)
e o trabalho liberta

4.
muito evangélico
22% evangélico

5.
em 2006 o pl
se fundiu com o prona

de lá, já vem a conjunção
bandeira nacional e beethoven

“quando vejo a bandeira do brasil
já penso em beethoven”
e “quando escuto beethoven
já ouço pés marchando”

(não, mas não importa)

6.
paulo koglos fazendo
cosplay de enéias carneiro

7.
quanto mais vazia a fé
mais fundamental a crença

8.
garoto armado entra e mata
um custo baixo
comparando
não há mais arte lésbica

(para cada isento ofendido
uma academia de tiro?)

9.
e assim caminha
a jesuscracia


postado em 10 de novembro de 2022, categoria prosa / poesia : , , ,

notícias setembro 2022

1. o motorista do uber disse que no brasil a instituição que funciona é as forças armadas. o porquê? são disciplinados. não ocorreu a ele que disciplina deve servir a propósitos, que a disciplina não é exatamente um valor em si…

2. pós-pandemia é como todo pós. quando há algo realmente posterior, o que veio antes some e não usamos mais prefixos. a carol bem disse, não há vergonha alguma em usar seletivamente e talvez até incongruentemente máscara. sou daqueles contra relaxar de verdade. mas há as forças do social, em combate.

3. talvez a conjunção da volta aos poucos com as eleições dê essa impressão meio surreal de um hiper-brasil, ou uma hiper-belo horizonte, brasil brandão (do loyola, não verás país nenhum e tal). imersos no brasil profundo, das figuras, dos personagens. descobrir-se personagem do brasil profundo.

4. thomas pynchon é isso mesmo, o inventor do hipsterismo? em dúvida se acho bom o crying of lot 49. não que obras hipsters sejam necessariamente ruins. adoro tatami galaxy e o filme da garota que sai para beber (mas daí, a narrativa estaria arraigada numa vivência mais universal – de estudante sem grana, e não num existencialismo champagne, “mas não tão caro”). acho que me divertiria se fosse um filme (não sei se virou filme; certamente viraria um bom filme. por falta de cultura cinematográfica, arrisco – do wes anderson, ou algo como o grande lebowski). o livro foi convoluto e pernóstico.

5. ter de lidar com a cemig é estar no pior que o brasil brandão pode oferecer. lembra aqueles filmes pós-stalinistas de “comédia” em que o personagem principal, de abuso em abuso, de esculacho em esculacho, vai ficando atônito ao ir aceitando sua impotência. acho que estou lembrando de um filme específico… de toda forma, você espera horas pelo serviço (literalmente, horas), chegam três rapazes da empreiteira, um tomando café, outro de óculos escuros, todos sem um pingo de consideração, todos surrealmente tranquilos, dizendo estarem muito atarefados e sem os equipamentos (lembra também o brazil com z – estou hoje cinematográfico, ao que parece). mas vão pegar, voltam, um abre com pé de cabra a tampa, outro puxa, o outro fica o tempo todo só olhando. um puxa o cabo, o outro prende, o outro olha. falam rápido, jogam as coisas e não testam nada, tentando ir embora antes que eu possa reclamar.

6. o praça 6 é um evento muito legal (vide #7 e #8), do ponto de vista do show. mas a gente vai sentindo o peso da municipalidade e instituições, que fazem de tudo para dificultar. a função deles, função pós-ditadura, aliás, é bloquear a boa vida (a vida interessante), já que não mais se censura como antigamente. e isso é algo supra-partidário, imbuído em “como as coisas funcionam”. surra de “realismo”. 

7. terminei de editar barriga de largar (largar de barriga da mc carol, em ordem alfabética e depois em ordem alfabética inversa). confesso que tive muitas dificuldades. o motivo é que me parece impossível ouvir “largar” sem ouvir entre um largar e outro um “de” (barriga), assim como “vai” cognitivamente implica “rolar” (uma pentada). tentando lidar com isso, horas passaram. irritado, escrevi isso, eximindo-me dos erros.

8. quando bandas da adolescência resolvem lançar músicas novas quando você está na meia idade há uma curiosa conjunção entre reconhecimento e descoberta, e o sentimento é da nostalgia do que não foi. mas diferentemente de uma estética pop do nostálgico, em que é como se imaginássemos adolescentes vivendo paixões ou melancolicamente sentados em alguma calçada, aqui o nostálgico do não vivido é pessoal, aqui o não ser vivido encontra se.


postado em 30 de setembro de 2022, categoria crônicas : , , , , , , , , ,

o erro é dos outros

é comum, em apresentações de edições acadêmicas, que o autor revele ter sido auxiliado por muitos e seus apontamentos valiosos. “as falhas, entretanto, são todas de minha responsabilidade”, dirá em seguida, eximindo seus interlocutores de qualquer imputação possível de má influência. “os erros são meus”, entretanto, pode significar que, se há algo de novo ali, é na parte nova autoral que se deve buscar o que não procede. contribuir de modo inovativo e certeiro aconteceria apenas no trabalho de outrém, quando na função de conselheiro.

de minha parte, quando estou fazendo colagens musicais, digo exatamente o contrário. ali, não basta garantir ter feito meu melhor, mas sim ter feito o melhor possível. assim, as eventuais falhas serão todas de responsabilidade dos artistas sampleados e falarão sobre eles e não sobre mim, ou sobre a colagem. afinal, não se trata de meta-colagem, mas de metalinguagem (ou seja, não se trata de meta-metalinguagem). os acertos são de minha responsabilidade, enquanto os erros são todos culpa dos outros.

(meu álbum palavra palavra deve sair em breve, pelo estranhas ocupações. subi minha versão de rosa, de pixinguinha, em meu bandcamp, como tira-gosto)


postado em 7 de setembro de 2022, categoria comentários, música : , , , ,

pipoca

quando deus estava a criar o melhor dos mundos, garantiu que neste existisse pipoca. das 13 possibilidades analisadas, entretanto, embora em todas menos uma ocorressem humanos, em nenhuma ocorriam humanos razoáveis. especula-se se entre os outros pequenos milagres que balizaram o trabalho do arquiteto do mundo estariam o pastel santa clara, a feijoada, o café expresso a arte da fuga (que, devido à conserva de nabo, teria de ser essa, sem o final mesmo). ou, ao menos, é o que eu posso pensar (dado que existem).


postado em 11 de agosto de 2022, categoria prosa / poesia : , ,

capivara de espinosa

uma das coisas que o corpo da capivara mais faz e portanto, uma das potências que ele mais ativa, é justamente a de mostrar-se como quadrúpede de pelos marrons, compacto, talvez até felpudo. essa ação, quase constante, elicitada pelo olhar de outros, mas não só, impõe severas restrições para aqueles que, em vias de tornar-se capivara por motivos alimentares, ou ainda outros, se vêm impotentes quanto à exibição de pelos.


postado em 13 de julho de 2022, categoria aforismos : , ,

segredo

após inúmeras aventuras nosso herói é capturado. ele guarda o segredo, o qual o conhecimento nosso vilão tanto almeja. ocorre que, ao ser oferecido duas opções – revelá-lo e evitar o pior ou não revelá-lo e ver o pior acontecer, nosso herói recusa a falsa escolha. diz:

“o segredo é meu para guardar. tenho duas opções, guardá-lo ou não. se o guardo, cumpro minha função. se não, falho em minha missão. o resto é por sua conta. pois se você, desprezível que é, ameaça minha família, essa ameaça é sua a realizar. veja, vilão, que só a você cabe cumpri-la ou não, assumindo uma covardia ou outra, fazendo-se verdadeiramente vil ou admitindo se tratar de bravataria. sua vileza, afinal, não é de minha conta. e por mais que eu vá julgá-lo por suas ações, ainda assim elas são inteiramente suas.”

o herói, que acreditava na liberdade, dessa opinião não fazia segredo – a chantagem era apenas uma tentativa de transferir a culpa aos outros, mias um recalque dos fracos de espírito. resoluto, ele acreditava que segredos deveriam ser, antes de mais nada, promessas não cumpridas de revelação.


postado em 23 de junho de 2022, categoria histórias : , , ,

o número era um cubo

no texto que é uma função, frege embarca em uma explicação digna de nota sobre a impossibilidade de um número variar (página 197 da trad. de paulo alcoforado).

Que é uma função? — Se dizermos “Há meia hora, o número que dava o comprimento desta barra em milímetros era um cubo; agora o número que dá o comprimento desta barra em milímetros não é um cubo”, não temos, em ambos os casos, o mesmo sujeito do enunciado. O número 1000 é o mesmo que o número 1001, apenas com outro aspecto? Se algo varia, temos sucessivamente diferentes propriedades e estados de um mesmo objeto. Se tal objeto não fosse o mesmo, não teríamos sujeito algum do qual pudéssemos predicar a variação. Uma barra se dilata quando aquecida. Enquanto isto se dá, ela permanece a mesma. Se, em vez disso, a barra fosse retirada e substituída por outra mais comprida, não poderíamos dizer que ela crescera. Um homem envelhece, mas se, no entanto, não pudéssemos reconhecê-lo como o mesmo, não teríamos nada de que pudéssemos predicar o envelhecer. Apliquemos isto ao número. Quando um número varia, o que permanece o mesmo? Nada.


postado em 20 de junho de 2022, categoria citações : , ,

saudosos quitutes

1. no começo da avenida brasil, em sua primeira esquina após a praça floriano peixoto, existe a gruta, lanchonete lendária por seus pastéis. entre as 7h e as 8h e entre as 9h e as 10h, aproximadamente, eram produzidos pastéis de queijo e de carne, de sabor e leveza ainda hoje não superados. como era o melhor pastel da cidade e a gruta nunca deixou de ser uma lanchonete muito modesta, o item barato e incrível acabava em minutos. de modo que já me vi, em ocasiões, sentado a ler, tomando café queimado, esperando pela próxima sessão. depois do fatídico anúncio do abandono da função de pasteleiro pelo encarregado, há quem tivesse tentado lançar #voltapastel como uma exigência necessária, mas eram poucos. o funcionário permaneceu impávido. não admitindo fazer menos que o perfeito, atribulado pelas exigências da excelência, optou pela aposentadoria contra continuar a angustiar-se com uma arte tão efêmera e ao mesmo tempo, que ele mesmo considerava simples demais, em sua excessiva humildade.

2. recentemente a padaria ping pão santa rosa anunciou que deixara de fabricar o biscoito de fécula de mandioca em formato de ferradura. fomos eu e carol bradar indignação, alternadamente, evitando sermos identificados como um casal, e comunicando a funcionários diferentes. o ferradura, melhor biscoito já produzido em toda a belo horizonte, combinação perfeita da força da textura com a sutileza na gustação, em uma forma robusta, até mesmo um pouco bruta na sua secura, mas que por isso mesmo era toda uma experiência. disseram, nas repetidas vezes, que ele não saia, ao contrário do palito. mas os pequenos palitos, por forma e tamanho, acabam se assemelhando demais a derivações do pão de queijo, além de promoverem a insaciabilidade do que pede sempre por mais um. seríamos os únicos a perceber isso? decadência do paladar mineiro, a recusar cada vez mais categoricamente tudo que não é de fácil mastigação?

3. existe algo muito peculiar em chegar no bar do nelson, no bairro santa inês e pedir o famoso torresmo, cortado em tiras retangulares precisas e finas, em um formato não apenas surpreendente mas impensável para quem nunca teve a oportunidade de pedi-los com sucesso. creio que ainda hoje se pode ir lá, mas como matthias, que morava perto, mudou-se para berlin, perdi o costume. a questão, entretanto, é que era preciso chegar cedo. muito cedo. pois quantas vezes pudemos ouvir, na voz caracteristicamente rouca, quase esofágica do garçom, que já tinha acabado? seria preciso agendar o torresmo? se já saia um, entoávamos, que venham logo três. e noite adentro, a corrida contra o tempo. acabado o torresmo (três porções era o deleite), outros itens, não tão impressionantes mas bastante apetitosos, iam, um por um, esgotando, até que na formulação afônica do simpático atendente nada restasse. não tem mais nada, dizia. nada, isto é, pra comer. continuávamos, ao estilo da marina, na cachaça.


postado em 16 de junho de 2022, categoria crônicas : , , , , , , ,

machado da restituição, harpa da perfeição

1. no poema medieval sir gawain e o cavaleiro verde, o cavaleiro verde é decapitado por sir gawain, com um golpe de machado. o machado, oferecido pelo próprio cavaleiro, estava afinal, imantado. ou é o que eu pensei – aparentemente era a cabeça que estava. de toda forma, melhor seria que o machado. machado da imolação desfeita.

2. o machado, com maior generalidade, poderia revocar os danos por ele causados. machado da restituição. e não que ele deixasse de os causar. mas garantiria uma recomposição imediata após avaria. em um mundo em que a necromancia estaria naturalmente interditada, ou em outro mais permissivo em que algum édito mágico é conjurado, poder-se-ia aproveitar da potestade do portentoso eixo de batalha para tentar infligir danos permanentemente mortais. nem sempre a restituição chega, afinal.

3. sir orfeo gostava de tocar sua harpa. pulemos sua história, a loucura e rapto da esposa, a abdicação do reino, a vida de ermitão, o feliz reencontro, a exibição dos dotes musicais ao vil monarca, a oportuna promessa, a reconquista da amada, a provação ao fiel servo, o desenlace afortunado. tudo isso nos parece formatado como tantas outras fábulas da antiguidade – justaposições de motivos, variações de combinações fortuitas.

4. acontece que, sua felicidade em jogo, apresentando-se sir orfeo ao soberano, talvez fosse melhor uma harpa enfeitiçada, a tocar a mais encantadora ode possível. mas como seria tal ode? aqui, se as palavras tecem louvores vagos e induzem apenas ao esfumaçado no imaginado, os sons teriam de ser, ainda assim, muito concretos, pois soando, seriam precisos e determinados. ou minto? pois no fundo o que soa pode ser o que é, mas o que se escuta não. aí, a imaginação voa e no mistério das avaliações, a música não é mais o percebido, mas que o percebido possa ser dito maravilhoso. a harpa da perfeição, entretanto, não tem cordas – sua música, inteira silêncio, faz-se dos sonhos de bem-aventurança daqueles que assim imaginam ouvi-los materializados. pois se a suprema glória é inaudível, ainda assim, o inaudível abre-nos ao experienciável.


postado em 10 de junho de 2022, categoria histórias : , , , ,

terceira dose

na segunda descubro que a vacinação avança em belo horizonte. 57, 58, 38, 27 e 28 anos podem ir se vacinar. três gerações quiçá? o que aconteceu com o 47, queria saber.

chego no posto são geraldo, vou a pé, na chuva. tudo é muito tranquilo e fácil. à noite entretanto, pouco antes do encontro virtual com paulo para jogar papo fora, 話をかける, a dor no braço faz-se nítida. logo intensifica e na hora de dormir está intensa a ponto de forçar insônia. a febre bate e dura um dia inteiro. a dor intensa no braço, três.

comento com paulo no segundo dia de pfizer e ele diz que há um lado bom: está funcionando. comento com carol e lembro que havia tirado onda das suas queixas quando da primeira dose. digo: talvez seja reflexão kármica, minhas primeiras doses foram coronavac.

vou à farmácia e o farmacêutico confirma: é isso mesmo, acontece. tenho dipirona vencida (jogo fora), pomada analgésica (passo duas vezes ao dia) e compro salompas (minhas costas sempre travam nessas situações). na hora de explicar, entretanto, solto um: tomei uma vacina da pfeifer.

agora, notem, pfeifer, referente à sílvia pfeifer, grafa-se assim mesmo. michelle pfeiffer, entretanto, tem na grafia um efe a mais. na praia de copacabana mítica cyberpunk de fawcett (de santa clara poltergeist) é a primeira que tem seu rosto projetado em telões de 300 metros, a fim de acalmar o populacho.


postado em 14 de janeiro de 2022, categoria crônicas : , ,