paciências

falam de paciência como se fosse uma coisa só. 

por acaso uma pessoa que tem febre por um mês deixa de sofrer durante todo esse mês, de sentir febre? se ela se acostuma, se acostuma ao sofrimento, a estar sofrendo. acostumar-se, nesse caso, em que pese a situação, não é como em outros – em que há um efeito narcótico-anestesiante.

estar habituado a sofrer, habitar o sofrer, habitar o sofrimento.

ficar irritado todo dia. aguentar todo dia essa irritação. irritar-se continuamente. como alguém que consegue sempre pensar em objetos ajuntados, mesmo quando está a somar números grandes. como um pianista que tem de se concentrar em tocar todas as notas de seu concerto. como alguém que sabe a todo momento o que vai falar, que pensa seu pensamento falado, antes de falá-lo.

a paciência vivida como o ato de levar a impaciência até seu limite: estar angustiado, novamente e novamente, estender o tempo da sua angústia.

viver essa angústia como angústia, mas por mais tempo.


postado em 17 de maio de 2013, categoria aforismos