Melancolia

Um filme leve, quase despretensioso: o homem de ciência se dá mal, o mundo acaba (grande coisa, não chega a ser uma perda dramática), tristão e isolda se encontram na morte, harmonias, melodias – pastiches de si mesmo, os rituais são todos esvaziamentos; mais eis que surge uma dúvida, eles serão de fato renovados? penso que a criança da caverna mágica (demasiado humana) invoca Nietzsche:

“Alguns degraus para trás – Um dos degraus, certamente muito alto, da cultura, é alcançado quando o homem ultrapassa conceitos e medos supersticiosos e religiosos e, por exemplo, não acredita mais nos caros anjinhos ou no pecado hereditário, e até mesmo da salvação das almas desaprendeu de falar: nesse grau de libertação, ele ainda precisa, com suprema tensão de sua lucidez, superar a metafísica. Mas em seguida é necessário um movimento de retrocesso: ele tem de compreender a legitimação histórica, assim como a psicológica, de tais representações, tem de reconhecer como a máxima promoção da humanidade veio de lá e como, sem esse movimento de retrocesso, nos privaríamos dos melhores resultados conseguidos pela humanidade até agora. – No tocante à metafísica filosófica, vejo agora um número cada vez maior daqueles que chegaram ao alvo negativo (que toda metafísica positiva é erro), mas ainda são poucos os que descem alguns degraus para trás; ou seja, devemos, decerto, olhar para além dos últimos degraus da escada, mas não querer ficar sobre eles. Os mais ilustrados só vão até o ponto de libertar-se da metafísica e lançar-lhe, para trás, um olhar de superioridade: e no entanto, também aqui, como no hipódromo, é preciso dobrar o final da pista.”

Melancholia. Dinamarca, Suécia, França, Alemanha, 2011. Escrito e dirigido por Lars von Trier. Com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg e Kiefer Sutherland. Production House.


postado em 30 de agosto de 2011, categoria Uncategorized : , , ,
  1. henrique iwao » Blog Archive » aniversários cancelados disse às 23:17 em 21 de março de 2016:

    […] da cena do filme melancolia, o final. é que daria trabalho demais não fazer uma cabana mágica. 33 anos bem tematizados na […]