ladainha

a escrita é a tecnologia que impede o pensamento de ficar se repetindo de novo e de novo. nesse sentido a ladainha é um monumento à oralidade. que algo dela invada a escrita, como nos parágrafos repetidos e temas recorrentes dos textos de gx jupitter-larsen, nos causa uma estranha sensação de amnésia, obsessão, absurdo e mistério (não deveríamos estar progredindo?). que ela seja reduzida a um loop solitário, como em gertrude stein, é para que, interrompendo a linearidade do pensamento que deveria ir em frente, ao invés de circular, acabe por deslocar e invisibilizar o círculo: veem-se as palavras, ouvem-se os sons.

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1. já em eugène ionesco, no livro repetido macbett, o método da repetição literal é empregado, nos discursos de ambos os generais macbett e bando.

2. quanto à stein, ao contrário do que alguns teimam em perceber, trata-se de uma maquininha bem ajustada, a substituir o maquinário desengonçado do cotidiano.


postado em 15 de abril de 2016, categoria aforismos, comentários : , , , ,
  1. Lu disse às 14:34 em 19 de abril de 2016:

    Comparar Stein a “uma maquininha bem ajustada”, é, para dizer o mínimo, preocupante e equivocado. Com um estilo próprio que influência até hoje as discussões tanto literárias, quanto artísticas, e chego a dizer até libertarias e feministas, se Stein tivesse que ser usada em qualquer frase que empregasse em conjunto ao seu nome um exemplo que envolvesse “máquinas”, seria sobre como ela a quebraria, desenvolvendo um maneira totalmente nova de encarar e alinhar as engrenagens da vida.

  2. henrique iwao disse às 1:29 em 20 de abril de 2016:

    que posso dizer. tentar estabelecer um argumento em uma frase curta pode ser insatisfatório. o que eu queria dizer é que, situações de repetição em stein fazem os sons funcionarem de um modo mais ordenado e efetivo do que em conversas repetitivas do cotidiano.

    mas talvez eu tivesse de ler mais, ou melhor – voltar a ler (é uma leitura antigas).
    de qualquer modo, eu geralmente uso “máquina” sempre com conotação positiva. possivelmente por influência de leibniz/deleuze.

  3. Lu disse às 12:57 em 20 de abril de 2016:

    Entendo o que quis dizer, e me deixa interessada a sua visão de máquina como uma coisa positiva, talvez devesse analisar por esse lado e tentar ver o que você vê. Acho incrível pensar na vida pela visão do outro. A mim, por outro lado, “maquina” sempre trouxe uma conotação negativa, ou melhor, de mediocridade, mediocridade no melhor âmbito da questão, em “ser mediano”, maquinas desenvolvem suas funções e param por ali. Não refletem, não analisam, não transcendem. Desempenham perfeitamente suas funções, talvez isso que devesse importar, mas não consigo pensar nisso como uma coisa boa! Talvez o erro seja meu ahahahha Pensando agora vejo que minha vida seria mais fácil se simplesmente gastasse mais tempo desempenhando funções perfeitamente, do que questionando as questões por trás destas ações.
    Essa página já me fez refletir mais que a psicologa! hahahaha