o erro é dos outros

é comum, em apresentações de edições acadêmicas, que o autor revele ter sido auxiliado por muitos e seus apontamentos valiosos. “as falhas, entretanto, são todas de minha responsabilidade”, dirá em seguida, eximindo seus interlocutores de qualquer imputação possível de má influência. “os erros são meus”, entretanto, pode significar que, se há algo de novo ali, é na parte nova autoral que se deve buscar o que não procede. contribuir de modo inovativo e certeiro aconteceria apenas no trabalho de outrém, quando na função de conselheiro.

de minha parte, quando estou fazendo colagens musicais, digo exatamente o contrário. ali, não basta garantir ter feito meu melhor, mas sim ter feito o melhor possível. assim, as eventuais falhas serão todas de responsabilidade dos artistas sampleados e falarão sobre eles e não sobre mim, ou sobre a colagem. afinal, não se trata de meta-colagem, mas de metalinguagem (ou seja, não se trata de meta-metalinguagem). os acertos são de minha responsabilidade, enquanto os erros são todos culpa dos outros.

(meu álbum palavra palavra deve sair em breve, pelo estranhas ocupações. subi minha versão de rosa, de pixinguinha, em meu bandcamp, como tira-gosto)


postado em 7 de setembro de 2022, categoria comentários, música : , , , ,

estou sentado em uma sala

como muitos outros, fiquei completamente fascinado quando escutei i am sitting in a room, tanto pela sonoridade, desenvolvida aos poucos, em processo lento, quanto pelo que estava ali envolvido (uma maneira muito poética de trabalhar musicalmente a ideia de que uma sala tem uma acústica específica). tanto que, quando dava aulas de arte sonora, mas até mesmo de criação e registro sonoro, sempre mostrava aos alunos da oi kabum! essa peça. e em seguida experimentávamos o processo: gravar uma fala ou alguns sons em uma sala. tocar essa gravação na mesma sala e gravá-la de novo. e novamente e assim por diante. presenciar o mistério da filtragem e reforço sucessivo de certas frequências até que a sala parecesse usar nosso estímulo inicial para expressar suas preferências, seu ser sonoro.

esses dias estava pensando sobre como essa música pode de fato ser dita canônica, dentro do âmbito da música experimental. por ser desconhecido no mundo afora, não fui convidado para a comemoração de 90 anos de alvin lucier, em que 90 artistas diferentes executavam a obra em diferentes espaços e condições. mas já tinha construído uma versão, em 2016, pensando em homenagear esse incansável explorador sonoro, falecido hoje (01 de dezembro de 2021).

a ideia era que, dada a força de i am sitting in a room, ligada às versões executadas pelo próprio lucier, haveria em toda sala, agora ligada à sua acústica, um potencial-lucier: o conjunto de frequências articuladas a partir do processo reiterativo de lucier como aspecto virtual para qualquer sala. e de certo modo, isso significava para mim que se filtrássemos a expressão de cada sala, sucessivamente e gradativamente, de toda sua força expressiva, o que sobraria ao final seria a voz do bom velhote.


postado em 1 de dezembro de 2021, categoria comentários, música : , , ,

reificação e objeto sonoro

há algo de muito estranho em criticar a noção de objeto sonoro escolhendo não levar em conta o projeto musical, no sentido modernista, que acompanha a noção. porque para defender que este leva a uma reificação do som, fadada a fazer o som levantar uma voz que diz “eu sou um objeto”, é preciso omitir completamente qualquer menção ao “objeto musical”. a autonomização do som não opera tanto para formar uma coisa em-si, como para criar a possibilidade de uma nova musicalidade.

Form is the lever that propels the sonorous toward recognition, hence toward permanence, and finally toward audibility. This process of the individuation of the sonorous, this becoming-object of sound unleashed by an intention, by a listening, is none other than the process of reification. It sets out from a misunderstanding, a misguided dualism between sonorous form and the signifying indices that emanate from it, when sound itself is nothing but an emanation in which the sensible and the meaningful are already commingled.

{françois j. bonnet. the order of sounds: a sonorous archipelago. trad. robin mackay. urbanomic, 2016, p. 121}


postado em 19 de janeiro de 2017, categoria comentários, música : , , , , ,

item 3 de um portfólio de 2009

descobri a pouco, mexendo num hd antigo, uma espécie de portfólio. creio tê-lo realizado para mostrar ao agrupamento de sonologia da eca/usp minhas credenciais, antes de lá ingressar no programa de pós graduação. (eu haveria de pleitear o mestrado)

3. Proposições de ordem poética

3.1 Sistemas Opressivo-Repressivos

. através de protocolos de conduta, o sistema circunscreve a ação dos improvisadores / performers, dificultando o cumprimento das metas estabelecidas por eles.
. através de comportamento imprevisível, os sistemas cortam e impossibilitam certas ações dos participantes, tais como “soar” (cortar o som, por exemplo), “aparecer” (cortar a luz).
. existe alguma conjuntura de jogo por trás de algumas ações mais ou menos nefastas dos sistemas, certos posicionamentos ou combinações de valores nos parâmetros avaliados.

3.2 Hiper Instrumentista Amputado

. amplia-se a atuação de um instrumentista improvisador, envolvendo, botões e mapeamentos diversos, para controle de luz, temperatura e outro (vídeo, etc).
. amputa-se alguma característica principal do mesmo, como a capacidade de soar para si mesmo, ou a de soar para o público.


postado em 3 de fevereiro de 2016, categoria música, textos : , , , ,

bob dylan

escreve seth kim-cohen em in the blink of an ear: toward a non-cochlear sonic art, pag. 203

One feels sorry for the musicians. It seems an unfair assignment to play with a man like Bob Dylan. One is likely to be victimized; Dylan may opt for a version of the song that fails to display your talents. Perfectly good players are immortalized playing indecisively and sloppily on a recording that sells in the millions and is played on the radio five, six, or seven times that often in the forty years since its release.

Dá para sentir pena dos músicos. Parece injusto tocar com um homem como Bob Dylan. Eles podem ser vitimados; Dylan pode optar por uma versão da canção que falha em mostrar seus talentos. Músicos perfeitamente bons podem ser imortalizados tocando de modo incerto e desleixado num álbum que vende aos milhões e é tocado no rádio cinco, seis ou sete vezes mais nos 40 anos desde de seu lançamento.

em 2010 eu estava preocupado especificamente em explorar a indecisão, o incerto e o pânico na improvisação livre. escrevi nessa época essas considerações e fiz o vídeo abaixo.


postado em 1 de dezembro de 2015, categoria comentários, música, vídeo : , , , ,

petropolítica

reinsurgência telúrica-omega (contra o sol, a lama), xerodrome (singularidade desértica da terra – deserto de lama), petropolítica, mineropolítica, guerra como máquina (e não máquinas-de-guerra), ratos-peixes podres (incursão epidêmica desterritorializante), taquiya (não-ação terrorista, “a coisa” de john carpenter, paranóia do inimigo indiscriminável).

o futuro é hoje (william gibson), ou ‘no futuro, nadaremos em lama tóxica’. vulcões negros e tsunamis marrons.

Petropolítica: a cartografia do óleo como uma entidade onipresente narrando as dinâmicas da Terra. De acordo com Hamid Parsani, o óleo é o fundo de todas as narrações. A petropolítica pode ser estudada para perseguir a emergência da Xerodrome (Terra-Deserto) como um clímax plano para a Odisséia da Tubulação ou um mundo cuja narrativa é primariamente conduzida através e pelo petróleo.
[Reza Negarestani: Cyclonopedia, p. 242]

a faixa do epilepsia com o chinese cookie poets pertence à coletânea oil, blood, hate, lançada pela plataforma records.


postado em 15 de novembro de 2015, categoria crônicas, música, vídeo : , , , , , , , , , , , , , , , ,

mímese

os músicos devem procurar tocar sempre de modo que, se o público estivesse de olhos fechados, não pudesse distinguir entre os sons do ambiente e aqueles produzidos pelos músicos.

{henrique iwao, 25 de março de 2015, 23h30}


postado em 25 de março de 2015, categoria música, proposições : , , ,

duas canções por maya and the aztecs

eu, maya dalinsky e mário del nunzio, num momento descontraído durante os preparativos para a performance de inscrição-memória-rasura.

1. my back hurts

2. counting


postado em 22 de janeiro de 2015, categoria música : , , , , ,

hy brazil vol 5: new experimental music from brazil 2014

agora sinto me finalmente incluído no universo da música experimental muderna brazuca; eu queria ser underground mas como diz o poeta “o underground será o novo upground”. então hype brazil vol. 5 vamos lá. (fora que eu acho difícil imaginar algo mais proto-hype que meu álbum-por-vir que pré-estreiou no ibrasotope dia 11 de julho)

((j-p caron mandou uma faixa do -notyesus> em que eu toco junto, sampler e sons fantasmagóricos e parados em um sintetizador, gravada de um show de 18 de junho de 2007))

para baixar seguir este elo e clicar em buy now – colocar zero ($0) no campo name yout price, preencher com seu e-mail e receber atalho de download. abaixo, minha faixa, para escuta aqui mesmo.


postado em 24 de julho de 2014, categoria música : , , , , , , ,

o brasil não chega às oitavas

novo álbum/performance minha, especial para a copa do mundo, pode ser baixado aqui.

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#obrasilnãochegaàsoitavas encarte 2


postado em 12 de junho de 2014, categoria música, performances : , , , , , , , ,