adição mecânica / destino das oito

1.

estou
estou numas
estou numas de
estou numas de ficar
estou numas de ficar assim
estou numas de ficar assim mesmo

2. lembrava de o destino das oito, ópera de chico mello, desse modo romanceado, mas não.


postado em 7 de abril de 2014, categoria música, prosa / poesia : , , , ,

fones de ouvido

o colega j.-p. caron demonstrou esses dias estar preocupado com a questão dos indiscerníveis na arte conceitual e na música experimental/contemporânea. peter ablinger fornece um exemplo bastante interessante, em uma obra criada em 1999 (agradecimentos a paulo dantas que gentilmente me presenteou o portfólio de ablinger da haus um waldsee).

Weiss / Weisslich 36, Kopfhörer

Ear-covering headphones with fixed microphones; microphones are connected to the headphones thrhough which you hear what the microphone picks up as it does.
As the microphone is directly connected to the headphones what you hear with headphones is the same as without. But: the same is not the same. There is a difference.
At least the difference between just being here and: listening. That difference is the piece.

(Peter Ablinger – HÖREN hören / hearing LISTENING, Haus am Waldsee / Kehrer Verlag, Berlin 2008, p.71)

“branco / esbranquiçado 36, fones de ouvido

fones de ouvido que cobrem as orelhas, equipados com microfones; microfones estão conectados aos fones de ouvido; fones de ouvido  fazem escutar o que os microfones captam ao funcionarem. como os microfones estão diretamente conectados ao fone de ouvido o que se ouve é o mesmo que se ouviria sem os fones de ouvidos. mas o mesmo não é o mesmo. há uma diferença. ao menos a diferença entre apenas estar lá e de fato escutar. essa diferença é a peça.


postado em 27 de fevereiro de 2014, categoria música : , , , ,

duas gravações de manifestações, junho de 2013

em 26 de junho de 2013 gravei o início da manifestação que partiu do centro de belo horizonte, pela antônio carlos até a abrahão caram. um pouco como luc ferrari (presque rien), fiz cortes e economizei tempo.

1. 15 minutos na lanchonete, centro de bh

2. 50 minutos na passeate, centro de bh


postado em 20 de fevereiro de 2014, categoria gravações, música : , , , , , ,

estupro como instituição

prólogo: nesses dias em que há as marchas das vadias, também há acusações de estupro em ações da polícia militar durante manifestações; também há a bancada evangélica fazendo pressão contra hospitais atenderem vítimas de estupro (em virtude de sua posição contrabortista). bem, posto aqui sobre o estupro, com algumas semanas de espera. é um assunto que me incomoda um tanto, e confesso que ao final do documentário citado abaixo estava bastante consternado. mas, tal como outras coisas que passam indiscutidas, sinto que precisamos cavocar mais a ferida. quantas pessoas estupradas conhecemos? eu mesmo, conheço algumas.

***

1. militares… sempre dando um jeito de estuprar durante ações estratégicas por aí… (exemplo, casos durante a pacificação do morro do alemão, pinheirinho etc.) bom, nos eua parece que uma das táticas é manter a coisa “interna”. o documentário invisible war (2012), de kirby dick parece dizer que sim. (um trecho aqui)

2. abaixo, cinismo mtvesco.

2.1 não sei como ser traída pode ser melhor que ser estuprada.

2.2 mesmo sendo uma pessoa dada, na hora do sexo é bom poder escolher os parceiros.

corolário1: pelos 41 minutos do documentário começa a haver menção de casos de estupros de homens também. // corolário 2: o sistema militar obviamente dificulta todo tipo de ação contra militares. com certas diferenças, é válido também para o brasil. veja alguns dos argumentos em http://youtu.be/QlgTo45W-Vs?t=8m40s e http://youtu.be/QlgTo45W-Vs?t=24m0s.

***

3. no japão, há inúmeras animações (hentais) tematizando estupros. me parece que há um esquema preponderante, que circunda a produção: “a garota não quer fazer sexo. ela é forçada a fazer sexo. ela sofre, mas começa a gostar. ela gosta de sexo. ela nasceu pra isso”. claro que como o tema é anunciado, o que acontece é que a garota só precisa de um evento para desvelar sua verdadeira natureza, naturalmente, sexualmente selvagem. então quando uma personagem começa a sofrer, ou é drogada para gostar de sexo, o público já sabe de antemão que aquela é apenas uma etapa rumo a um maior autoconhecimento por parte da personagem.

4. há um documentário el império dos sin-sexo, de pierre caule, mostrando japoneses como parte de uma sociedade em que há cada vez uma maior separação entre sexo e relacionamentos, no sentido de supressão dos relacionamentos. uma prostituta é uma prestadora de serviços, uma boneca ou um tubo-vagina são produtos; não estão sujeitas à lógica do estupro. pode ser visto aqui.

4.1 há um artigo sensacionalista fazendo uma reflexão interessante sobre o documentário (com algumas informações equivocadas, mas que ainda assim levanta questões).

4.2 reinterpretar 3 a partir de 4.

coroloário 3: segundo uma estatística de 2010, a porcentagem de estupros registrados por cem mil habitantes no estados unidos é cerca de 25 vezes maior nesse ano, do que os do japão. obviamente, há o problema do registro: apenas uma menor parte das ocorrências é registrada; ademais, há pequenas diferenças na definição legal do que seja a ação. os dados usados são das nações unidas. o brasil consta como “não forneceu dados”.


postado em 27 de julho de 2013, categoria crônicas, música : , , , , , , , , , , , , , ,

baby

dos trocadilhos infames presentes na obra de spears, lembro-me agora de um: “i can be your trouble baby you can be my bass” (treble – agudo, bass – grave). todas as vezes que ela fala baby nessa canção estão incluídas nos últimos segundos de minha baby. a oposição entre grave e agudo se faz ressoar nas oposições entre homem mulher, cantora produtor, britney will.i.am, problema (instabilidade) e base (ponto de apoio).

há outra frase terrível, mas cuja canção não podia ser inclusa, por falta de babyness, falando sobre o tal do threesome (trêsalgo; sexo a três): “what we do is innocent / just for fun and nothin’ meant / If you don’t like the company / let’s just do it you and me / you and me… / or three…. / or four…. / – on the floor!” (o que fazemos é inocente / só para diversão e nada demais / se você não gosta da companhia [de outro cara] / vamos fazer só eu e você / eu e você… / ou a três / ou a quatro… / no quarto!). four on the floor é jogo duro.

baby é a suposta segunda faixa de meu álbum a ser feito/lançado em breve (não digo o quão breve porque tenho enrolado há tempos para fazê-lo: baby, por exemplo, foi idealizada em 2008, rascunhada em 2009 e acabada em 2013).


postado em 25 de maio de 2013, categoria música

Diagrama Baby no. 1


postado em 20 de julho de 2011, categoria música : , , ,

Atari Punk Console de Parede

No dia 02 de fevereiro, no Ibrasotope, Cristiano Rosa (Pan&Tone) ministrou uma oficina de Atari Punk Console. Eu não estava participando, apenas aqui e ali tirando umas fotos e filmando um pouquinho; tinha feito café, disponibilizado água, tomadas e torradinhas – com queijo branco -, para quem quisesse.

Nesse mesmo dia meus pais e minha irmã viajaram para Brasília, para o enterro do querido Reynaldo Jardim. Após rememorar o encontro com meu tio-avô e pensar sobre o que seria a “jovialidade” – o que será assunto para uma outra postagem (preciso pegar meus livros em Campinas) -, desci até a oficina. Cristiano me deu uma de suas placas de circuito; minha reação foi colá-la na parede, com resina epóxi. Fui então provocado a soldar os componentes na placa, lutando contra a gravidade para acertar o estanho nos devidos lugares. O resultado foi então adequado às minhas idéias (em conjunção com concepções de Marcelo Muniz) sobre o que seria uma estética do tosco, além de prestar uma singela homenagem a Rey, dono de um espírito inventivo fabuloso.

2011-02-02 atari punk console, de henrique iwao

Fenerich me ajudou a manipular a luz nesse exemplo abaixo.

Na verdade ele ficou tão entusiasmado, que resolvi propor que esse pedaço de parede fosse coberta por pequenas obras. Ainda contagiados e em um acesso de alegria incontida e paspalhonice, procuramos um meio para cobrir a jarra de água antes de colocá-la na geladeira, com o intuito de evitar aquele gosto de água guardada, no dia seguinte.

Isso foi feito em três etapas, utilizando uma xícara.

2011-02-02  jarra com água e xícara (1)

2011-02-02  jarra com água e xícara (2)

2011-02-02  jarra com água e xícara (3)


postado em 4 de fevereiro de 2011, categoria música

Improvisos com luzes, novembro de 2010

2010. improviso 17 nov (1)

Resolvi tentar improvisar usando a luz como elemento musical, além dos meus habituais objetos (como pentes, grampeador, espátulas, dados, bichos de pelúcia). Esse vídeo respondeu à necessidade de filmar uma improvisação livre solo para a aula de pós-graduação da USP “Os Territórios da Improvisação: Pensamento e Ação Musical em Tempo Real”, ministrada pelo prof. Dr. Rogério Costa.

Eu já tinha escrito, em um outro trabalho acadêmico: se é fato de que “música” não é por si uma arte meramente sonora / auditiva, mas que se agencia em torno do som e da tradição musical, também é possível pensar que, a partir do ouvido e da escuta e para o ouvido e a escuta, agregamos outros sentidos, aparatos, dispositivos. Dessa forma, tentei “tocar a luz”, não como um iluminador ou como um operador de luz, mas como o músico que sou! (frase brega!).

Nesses improvisos, também incluo como fator importante a apreensão de características de intencionalidade do improvisador (se está deciso, indeciso, pensando, em pânico, se está forjando estar indeciso, etc). Por isso tento deixar bastante aparente expressões corporais e faciais que possam dar informações ao espectador nesse sentido, traçar contrapontos, preencher as pausas sonoras com titubeios.

Momentos em que se olha para frente, há a mini-tábua, o microfone de contato, um pente azul jogado, ao lado o estrobo, a caixa-clara, do outro a luminária, o rádio e uma filmadora na diagonal esquerda, o pim e a outra luminária na diagonal à direita, no chão a pedaleira de efeitos, os pedais de volume, em baixo da mesa a caixa de objetos, acima a mesa de som, os cabos passando de um lado a outro, são 9 cabos, entre a frente e a traseira direita a caixa de papelão com bichos de pelúcia, a coruja, o pisco, o guaxinim, e alguns nãos, tudo ao mesmo tempo, a capacidade de analisar começa a falhar, pego a espátula mas não vou usá-la, já fiz isso, eu sei o que aconteceria, e se… e de-repente um leve pânico: eu não sei onde estou – e a paralisia, mas estou com a espátula na mão, pego um imã e raspo (eu sei raspar), é isso, eu estou aqui, vou subir esse pedal, mas não vou mexer nesse cabo, vou girar isso para que o som ressoe na caixa (giro o botão errado e nada acontece) – estou agaixado, é melhor olhar então com cara de que está tudo errado, ver se a câmera capta isso, e mexer em todos os botões, um por um, pro outro lado, até memorizar e remexer e deixar apenas o correto, a outra mão ainda está raspando o imã, e o pé direito quer desligar a luz, mas está de tênis, é difícil assim, eu deveria estar descalço.


postado em 25 de novembro de 2010, categoria música, performances

O FEIA continua lindo

henrique iwao & lucas araújo - feia xi, show

Tenho participado de muitos FEIAs – Festival do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Desde 2002, um ano após ingressar no curso de música da universidade em questão (curso o qual frequentei até 2006), sempre que há um FEIA, estou lá (2007 e 2009 são as excessões) – fazendo ou ministrando cursos, tocando, reclamando, ouvindo e vendo coisas; já até mesmo ajudei na organização! (enquanto membro do centro acadêmico).

Não a toa, em postagem recente, Alexandre Porres, ao saber da apresentação que eu e Lucas Araújo iríamos fazer no FEIA XI, nos chamou de “os dinossauros do FEIA”, ao que Araújo respondeu que se auto-proclamara o “Rubinho Barriquelo” do evento (cabendo aos leitores interpretarem o significado disso). Para não frustrar a todos com uma interminável sucessão de nomes de grupos e datas, vou ao assunto do dia (esse tal de décimo primeiro festival), e deixo para o final da postagem a lista de participações minhas.

henrique iwao & lucas araújo - feia xi, público

Pois bem, ir a uma apresentação de dança do festival é saber que vai atrasar, que alguma das atrações vai ser cancelada, e que talvez as condições não sejam as mais amigáveis de todas, mas dessa vez houve um adicional desagradável! Eu pedi a um rapaz para que ele abaixasse a câmera dele – coisa normal, de gente chata como eu, que quer ver a dança; que acha importante ver, presenciar, em contraposição a ver com uma luz chata no canto do olho, pensando que aquela luz virará um vídeo. O rapaz pois-se a contorcer, filmando de um jeito estranho pra não me prejudicar, sem iluminação adequada e com um equipamento barato e de qualidade baixa. Ao final da apresentação fez pose de bandido, virou-se, indagou por mim, rangeu os dentes e me ameaçou de morte, a sério (não vou reproduzir aqui a conversa lamentável: basicamente o argumento era que ele estava documentando uma importante apresentação de dança indiana, enquanto eu estava sendo egoísta, e que por ser egoísta, merecia morrer, ainda mais se tratando dele, que conhecia fulano e que tinha armas).

***

Bicicleta presa no barracão da DACO, não abre a correia, volto a pé para casa, tenho de comer e me preparar para o show com Araújo, meu irmão está com um pouco febril, mas concorda em ir pegar a bicicleta, eu de carro, tenho de levar os equipamentos. Tentamos a chave, forçamos, tentamos de nove e quebramos a chave dentro da correia, a bicicleta ainda presa e agora chuva e mais chuva (e meu irmão meio gripado). Lembro de Juliana França, gritando “(assim que descobrir o nome coloco aqui), você me salvou mais uma vez”, vou até a sala dele, que desparafusa um serrotinho, troca a serra, garante que está bom, com essa vai ser moleza, com o canivete não dá mesmo – então eu e Carlos serramos o aço da correia.

De guarda-chuva em bicicleta, meu irmão Carlos, guarda-chuva grande, verde, vai passear. Na hora do show, quando queria guardar a bicicleta na Casa do Lago, não pôde – o funcionário preguiçoso não permitiu. Eu disse: “mas agora isso então não é uma bicicleta, é um instrumento, parte do meu instrumentário, vou usá-lo na performance”. Assim, com essa operação Duchampiana típica, a bicicleta pôde ficar resguardada da chuva e protegida de roubo, porque se fosse uma mera bicicleta, e não um objeto artístico em potencial, teria de tomar chuva e arriscar ser roubada, pobre bicicleta sem correia.

Como era esperado, não haviam olhado o mapa de palco, nem prestado muita atenção na lista de equipamentos necessários (todo o ano eu pergunto: “então pra quê, gente, se no final ninguém olha e vira aquele clima do faz com o que tiver” (eu tenho outra teoria, eles pedem para que na hora de reclamar, o artista possa se sentir justificado, dizendo “eu mandei todas as informações, o erro é de vocês, da organização”). Mas dessa vez, não havia ninguém da organização do festival, terceirizaram o serviço, estava lá o conhecido Helder Samara e um ajudante, garantindo que o som fosse montado corretamente, com boa qualidade, com justificáveis 15 minutos de atraso para o início da performance.

O que me espantou foi o que aconteceu 10 minutos antes do horário previsto para o show, quando dois rapazotes, de camisetas amarelas FEIA XI, com cara de que haviam acabado de acordar, tendo dormido em rede, apareceram. “Está tudo certo? quer que a gente divulgue o show, cole um cartaz por aí?” – Está. Não, obrigado. (Eu pensara algo assim: “1. Se não estivesse certo, que raios que vocês iam fazer para acertar; 2. Se você não divulgou nada até agora, porque se dá o trabalho de aparecer aqui com essa proposta ridícula, 10 minutos antes do horário previsto pro show! voltem a dormir que ganham mais, ou ao menos assistam ao show!” – Mas não, não ficaram para ver/ouvir, não estavam nem aí, se recusaram a dar camiseta do festival para mim, disseram que era difícil.)

henrique iwao & lucas araújo no feia 11

Em 2006 marcamos uma apresentação, que calhou de ser na Sala Paes Nunes. Houve uma confusão entre quem ocupava o quê, e ninguém apareceu, tocamos 3 minutos só para fazer algo antes de almoçar. Em 2008, o aluno responsável pela apresentação (com Pan&Tone, de Porto Alegre) estava preocupado com o aparelho de som (melhor não tocar do que soltar esses sons perigosos nesse som), e deixou baixo, as pessoas ficavam conversando, a garota da organização viu, mas ao invés de qualquer outra coisa, ficou dizendo: “nós temos certificados, vamos dar para vocês, certo?” (nunca recebi).

***

Por essas e outras experiências, me parece que um fenômeno vem ocorrendo em relação ao FEIA. Nos anos iniciais, o festival era uma conquista estudantil, que procurava mobilizar os alunos de arte para que eles fizessem arte, mostrassem seus trabalhos uns aos outros, fruissem arte; era uma luta difícil, uma busca por criar um ambiente de trocas de conhecimento ao redor do fazer artístico. Por isso os cursos, a preocupação de gerar algum diálogo com locais fora da universidade, e a vontade de abarcar a tudo e a todos (apesar das diversas controvérsias, contradições e mini-sectarismos, essa era a base de pensamento do festival, creio eu).

Assim, o FEIA, nessa clima de busca e embate, sempre acontecia de modo precário, com uma grade de eventos desproporcional ao que os próprios organizadores poderiam organizar. A vontade de fazer gerava vida ao evento. Essa vida transbordava em tensões, discussões, brigas, picuinhas, mas gerava alegrias e conferia sentido ao evento.

Ultimamente, parece que essa vontade se perdeu, deu lugar a um pensamento acomodado do tipo: “o FEIA já é algo instituído, é um festival de artes, tem apresentações, ocorre todo ano”. O clima é blasé, de tantofaz. Mas o FEIA como algo garantido, como mais um festival, é apenas um festival desorganizado e sem público para coisas mais aventurosas! Ou seja, cai em um desânimo pela falta de entusiasmo, pela aceitação acrítica de sua institucionalização.

Ao menos, é o que sou levado a pensar. Como artista que segue carreira, fora da universidade, esperava ao menos uma manifestação de interesse por parte da organização, uma intenção de gerar trocas e sentido nesses shows, nos anos de 2008 e 2010.

henrique iwao & lucas araújo - feia xi, instrumentário

Não obstante, também sei que, dada a minha trajetória – de estudante da Unicamp, ligado e disposto a ajudar o FEIA, para artista de fora de Campinas – toda a visão de que há menos vontade de viver o FEIA como algo importante hoje em dia, – toda essa visão – pode ser saudosismo. Mas esse saudosismo aponta para o fato de que talvez nunca houve uma vontade forte e suficiente da organização do festival, de que os artistas participantes sempre foram tratados de modo desinteressado, e que o festival é realmente relevante apenas para quem participa como artista-estudante-organizador.

Apesar das críticas, continuo a participar, acho importante ter um espaço para mostrar minhas coisas aos meus amigos, poder tocar perto dos locais onde vive grande parte da minha vida. Esse espaço é importante, mas fica aquela pergunta me atasanando: “não podia ser mais do que isso?”

***

Participações como artista nos FEIAs, em ordem cronológica.

i. Minicurso Introdução à Técnica Serial, 16 de outubro de 2002.
ii. Apresentação do grupo Hutxjma (com Bernardo Barros, Dantas Rampin, Gustavo Alfaix & Mário Del Nunzio), 17 de outubro de 2002.
iii. Hipgnik & os Prigoginistas: Vol.1 (com Lucas Araújo, José Luis Bomfim & Mário Del Nunzio), 17 de outubro de 2003.
iv. Concerto de Música Eletrônica no IMECC (diversos compositores), 19 de outubro de 2004.
v. O “Mundo” Entre Aspas: Show na Festa do FEIA (com Lucas Araújo, Mário Del Nunzio, Rodrigo Felício & Alexandre Porres), 21 de outubro de 2004.
vi. Hipgnik & os Prigoginistas: Vol.3, “A Ressurreição”, (com Lucas Araújo, José Luis Bomfim, Mário Del Nunzio, Juliana França & Melina Scialom), 23 de outubro de 2004.
vii. Minicurso Música Eletrônica Atual: Técnica e Estética, ministrado conjuntamente com Mário Del Nunzio, 03 de outubro de 2005.
viii. Concerto de Música Eletrônica (diversos compositores), 04 de outubro de 2005.
ix. Projeto PI: apresentação na Vernissagem da Mostra de Artes Plásticas do FEIA6 (com Alexandre Porres), 04 de outubro de 2005.
x. Hipgnik & os Prigoginistas: Vol.2, “Nosferatu, de Murnau, com a inclusão de: garganta, ladrão, júpiter, koani, videogame, serra, anêmica, entre outros fragmentos, todos eles justapostos, sobrepostos ou ainda aglutinados de maneira evidentemente arbitrária”, (com Lucas Araújo & Mário Del Nunzio), 05 de outubro de 2005.
xi. O “Mundo” Entre Aspas: Show na Festa do FEIA (com Lucas Araújo, Mário Del Nunzio, Rodrigo Felício & Alexandre Porres), 06 de outubro de 2005.
xii. Trio Marco04: concerto de música improvisada (com Lucas Araújo & Mário Del Nunzio), 07 de outubro de 2005.
xiii. Projeto 6/6/6 (com Lucas Araújo, Mário Del Nunzio, Juliana França, Andrea Krohn, Daniela Laetano, Rafael Montorfano, Alexandre Porres, Carla Sandim, Melina Scialom, Paula Siqueira, Gregory Slivar), 20 de setembro de 2006.
xiv. Trio Marco04: concerto de música improvisada (com Lucas Araújo & Mário Del Nunzio), 21 de setembro de 2006.
xv. Daniela Morais + Henrique Iwao & Pan&Tone: Quase Perto, improviso de dança e música (com Daniela Morais & Cristiano Rosa), 15 de setembro de 2008.
xvi. Participação na apresentação de Valério Fiel da Costa: Obras Sacras?, 17 de setembro de 2008.
xvii. Henrique Iwao & Lucas Araújo: Barulho (com Lucas Araújo), 07 de outubro de 2010.


postado em 21 de novembro de 2010, categoria música

Serenata Arquicúbica

Continuando a série de postagens que documentam as peças executadas pelo Duo Henrique Iwao-Mário Del Nunzio, abordo aqui o solo de Mário Del Nunzio, para guitarra e vídeo.

[ibx20] duo henrique iwao-mário del nunzio, 6

Mário descreve a peça Serenata Arquicúbica (2008 – ca. 20 min), para guitarra vídeo e eletrônica ao vivo, assim:

A peça tem como partitura um vídeo, constituído por até quatro camadas filmadas independentemente, cada uma focando uma das mãos e um dos pés de um guitarrista (o próprio compositor da peça) – formando, com isso, um guitarrista virtual, pela soma dessas quatro camadas.

Essas quatro camadas são fragmentadas (com fragmentos cujas durações variam entre pouco menos de um segundo até cerca de um minuto) e submetidas a todas as combinações possíveis de mãos e pés. O instrumentista executante da peça tem a missão de reproduzir tão fielmente quanto possível, o conteúdo gestual do guitarrista virtual, tratando cada um de seus membros como uma entidade distinta – as duas mãos sobre o instrumento, usando tanto técnicas tradicionais (ainda que já infiltradas por uma dissociação paramétrica resultante da independência das mãos), quanto técnicas extendidas; os pés, acionando e controlando pedais de efeito, alterando tanto propriedades timbrísticas quanto melódicas do instrumento (cabe lembrar que aos pés é dado um tratamento com densidade gestual similar ao que é dado às mãos – diferindo radicalmente do uso habitual associado aos pedais de efeito).

[ibx20] duo henrique iwao-mário del nunzio, 7

Com isso, a obra exige uma movimentação frenética do executante, que é contraposta à vídeo-partitura, que é, em uma situação ideal, absolutamente espelhada pelo instrumentista, mas em que há um alto grau de tensão envolvido na performance, dada a necessidade de emular simultaneamente quatro camadas de ação editadas de modo fragmentado, de modo que esse espelhamento idealizado torna-se de fato algo sujeito a um estranhamento e a uma busca incessante pela independência gestual de cada um dos membros, pelo instrumentista.

Fotos e vídeos

1. Fotos, organizadas no meu flickr.
2. Vídeo da turnê de Del Nunzio-Koole-Prins, com um trecho de Serenata, tocada por Matthias Koole.
3. Três fotos, por Milena Nallin, tiradas durante o II Festival Ibrasotope de Música Experimental.

A peça também é interpretada por Matthias Koole, como mostra a foto abaixo, tirada no SESC Santos, 11 de setembro de 2009.

matthias toca serenata arquicúbica, de mário del nunzio 2

Textos sobre a peça

Há um artigo de Mário Del Nunzio, publicado na Revista Ibrasotope no.1 sobre a peça. Ele estará algum dia disponibilizado na Internet.

Apresentações

01. Palavraria, Porto Alegre, julho/2008 (Mário Del Nunzio, sem vídeo) – primeira versão.
02. SESC Ipiranga, São Paulo, outubro/2008 (Del Nunzio, com vídeo) – a partir daqui, sempre com a versão revisada e definitiva.
03. SESC Consolação, São Paulo, janeiro/2009 (Del Nunzio, com vídeo).
04. HOTELbich, Bruxelas, janeiro/2009 (Matthias Koole, com vídeo).
05. UNICAMP, Campinas, 1 de setembro de 2009 (Del Nunzio, sem vídeo).
06. SESC Santos, Santos, 11 de setembro de 2009 (Koole, com vídeo).
07. UFMG – Encun, Belo Horizonte, outubro/2009 (Del Nunzio, com vídeo).
08. Concertgebouw Brugge, Bruges (Bélgica), 18 de novembro/2009 (Koole, com vídeo).
09. Warp, Saint-Niklaas (Bélgica), 29 de novembro/2009 (Del Nunzio, com vídeo).
10. Qo2, Bruxelas (Bélgica), 9 de dezembro/2009 (Del Nunzio, com vídeo).
11. Antuérpia (Bélgica), 16 de dezembro/2009 (Koole, com vídeo).
12. II Festival Ibrasotope de Música Experimental, CCJ, São Paulo, 31 de julho de 2010 (Del Nunzio, com vídeo).
13. Festival de Arte Digital, Oi Futuro, Belo Horizonte, 2 de setembro de 2010 (Del Nunzio, com vídeo).
14. SESC Vila Mariana, São Paulo, 16 de setembro de 2010 (Del Nunzio, com vídeo).


postado em 17 de setembro de 2010, categoria música