café com babosa

fazer café tem seus percalços. mas há também perigo. ao posicionar o coador em cima da garrafa térmica é preciso observar a possibilidade de instabilidade, na falta de um encaixe harmônico. uma água quente que escorre inadvertidamente para fora do filtro, porque o coador deslizou, inclinando, por mais que não exatamente fervente, queima feio a mão esquerda que tenta corrigir o descuido.

uma decisão então se afigura. aliviar as dores enfiando a mão em um balde de água fresca, um pouco fria (gelar com moderação), ou imediatamente aplicar babosa. modernamente, entretanto, aprendemos que devemos tirar a aloína – a gosma amarela que escorre quando cortamos a folha carnosa, por sua toxicidade. e o processo envolvendo descansar essa folha na água toma pelo menos 20 minutos. a solução seria cortar um pedaço, tirar apenas o excesso evidente e usá-lo imediatamente, reservando o resto, depois inclusive colocando parte na geladeira.

a diatribe envolvida: ao aliviar a queimadura na água, estaria eu fadado a bolhas que, caso tivesse optado pelo tratamento babosa integral, evitaria? de todo modo, as bolhas recederam.

mão esquerda no sétimo dia após o acidente. o café ficou bom, mais forte que o habitual (parte dele caiu, não apenas na mão, mas no chão).


postado em 4 de janeiro de 2024, categoria crônicas : , ,

nectarina

as festas de final de ano trazem à tona a questão spinozana: nós não sabemos o que o corpo pode. em meio a uma janta, por exemplo, não sabemos o quanto podemos comer e beber. mas é em meio a uma ceia comunal, digamos, de ano novo, que testamos esses limites desconhecidos. pois qualquer um pode eventualmente se perguntar se, após pernil, barazushi, sunomono, costela ao molho barbecue, sushi e o lendário sapicão da tia yuri, repetido ao menos três vezes, e como há uma outra barriga para os doces, apfelstrudel com sorvete de creme, pudim de pão e um pouco de pavê, acompanhados devidamente de bebidas – uma dose de whiskey, um copo de negroni, ao menos 3 garibaldis, o champagne da virada e combinações de gim a gosto… se, enfim, o vazio resultante que sentimos não pode ser preenchido com uma nectarina.

a nectarina, obviamente, é um erro. não que a fruta seja especialmente indigesta, de suculência demasiado densa, de ternura nefasta ou doçura muito mais pregnante que o pêssego, a ameixa ou um punhado de lichias. não é uma questão de propriedades, um problema com a substância, mas sim uma eventualidade do encontro. e o encontro com a nectarina é mortal.

mortal é, claro, um modo de dizer. o corpo persiste, acometido de paresia, lento e enjoado. que ideia. comer nectarina.


postado em 3 de janeiro de 2024, categoria crônicas : , , , ,

batendo palmas na hora errada

esses dias o caron me enviou um álbum alternando transcrições para piano de canções de schubert e pecas do espectralista hughes dufourt. quando cursava composição, na unicamp, já uns 20 anos atrás, fui com mário del nunzio e bernardo barros em uma apresentação do quarteto de cordas keller, um programa com a arte da fuga, de bach, e peças contemporâneas de kurtág. diferentemente da versão para tv, o quarteto resolveu alternar contrapontos e atonalismos, em um programa com talvez sem pausas, 50 minutos direto (ou em duas partes – a memória me falha).

lembro de ter pensado que a montagem era um embuste. que tornava as peças de bach harmoniosas enquanto também tornava as peças de kurtág, por comparação, meio vazias. a atmosfera de união sagrada no altar das grandes composições, em que a elevação espiritual comum a ambas as iluminaria mutuamente, não se formou. ou era o que eu achara, já nos primeiros minutos, um pouco amargurado por ver dois dos meus compositores prediletos da época se cutucarem musicalmente.

como era um ambiente chique, de ingresso caro, e os keller eram famosos, nem me ocorreu ir até eles depois do concerto. em um dado momento, entre uma peça e outra, deliberadamente bati palmas, sozinho, sob o olhar fulminante dos músicos. não me orgulho disso. ambientes pouco convidativos à crítica nos impelem ao protesto.


postado em 9 de agosto de 2023, categoria crônicas : , ,

há coisas que são muito difíceis

como por exemplo, saber qual o recheio do salgado. de fato, é preciso primeiro não saber para poder cutucá-lo com a espátula. observá-lo com desdém, como se este não respondesse por capricho. e só então virar preguiçosamente e perguntar a outrem, com a boca quase fechada, como quem sente-se obrigado a perder tempo.

como por exemplo, fotocopiar um livro. pois o livro em questão é um livro mesmo, isto é, um objeto físico, com páginas físicas, páginas que são efetivamente folhas. e fotocopiar não é simplesmente imprimir. e é quase impensável que se tenha de fotocopiar e também procurar preservar o livro. não que se pense assim, de modo teórico, mas afinal, não se pode depois baixar um pdf desse livro e pronto? se não for para dobrar apertadinho um lado contra o outro, então não vou nem tentar. e a dona da papelaria olha compreensivamente pra jovem e diz, deixa que eu faço.


postado em 19 de dezembro de 2022, categoria crônicas : , , , ,

notícias setembro 2022

1. o motorista do uber disse que no brasil a instituição que funciona é as forças armadas. o porquê? são disciplinados. não ocorreu a ele que disciplina deve servir a propósitos, que a disciplina não é exatamente um valor em si…

2. pós-pandemia é como todo pós. quando há algo realmente posterior, o que veio antes some e não usamos mais prefixos. a carol bem disse, não há vergonha alguma em usar seletivamente e talvez até incongruentemente máscara. sou daqueles contra relaxar de verdade. mas há as forças do social, em combate.

3. talvez a conjunção da volta aos poucos com as eleições dê essa impressão meio surreal de um hiper-brasil, ou uma hiper-belo horizonte, brasil brandão (do loyola, não verás país nenhum e tal). imersos no brasil profundo, das figuras, dos personagens. descobrir-se personagem do brasil profundo.

4. thomas pynchon é isso mesmo, o inventor do hipsterismo? em dúvida se acho bom o crying of lot 49. não que obras hipsters sejam necessariamente ruins. adoro tatami galaxy e o filme da garota que sai para beber (mas daí, a narrativa estaria arraigada numa vivência mais universal – de estudante sem grana, e não num existencialismo champagne, “mas não tão caro”). acho que me divertiria se fosse um filme (não sei se virou filme; certamente viraria um bom filme. por falta de cultura cinematográfica, arrisco – do wes anderson, ou algo como o grande lebowski). o livro foi convoluto e pernóstico.

5. ter de lidar com a cemig é estar no pior que o brasil brandão pode oferecer. lembra aqueles filmes pós-stalinistas de “comédia” em que o personagem principal, de abuso em abuso, de esculacho em esculacho, vai ficando atônito ao ir aceitando sua impotência. acho que estou lembrando de um filme específico… de toda forma, você espera horas pelo serviço (literalmente, horas), chegam três rapazes da empreiteira, um tomando café, outro de óculos escuros, todos sem um pingo de consideração, todos surrealmente tranquilos, dizendo estarem muito atarefados e sem os equipamentos (lembra também o brazil com z – estou hoje cinematográfico, ao que parece). mas vão pegar, voltam, um abre com pé de cabra a tampa, outro puxa, o outro fica o tempo todo só olhando. um puxa o cabo, o outro prende, o outro olha. falam rápido, jogam as coisas e não testam nada, tentando ir embora antes que eu possa reclamar.

6. o praça 6 é um evento muito legal (vide #7 e #8), do ponto de vista do show. mas a gente vai sentindo o peso da municipalidade e instituições, que fazem de tudo para dificultar. a função deles, função pós-ditadura, aliás, é bloquear a boa vida (a vida interessante), já que não mais se censura como antigamente. e isso é algo supra-partidário, imbuído em “como as coisas funcionam”. surra de “realismo”. 

7. terminei de editar barriga de largar (largar de barriga da mc carol, em ordem alfabética e depois em ordem alfabética inversa). confesso que tive muitas dificuldades. o motivo é que me parece impossível ouvir “largar” sem ouvir entre um largar e outro um “de” (barriga), assim como “vai” cognitivamente implica “rolar” (uma pentada). tentando lidar com isso, horas passaram. irritado, escrevi isso, eximindo-me dos erros.

8. quando bandas da adolescência resolvem lançar músicas novas quando você está na meia idade há uma curiosa conjunção entre reconhecimento e descoberta, e o sentimento é da nostalgia do que não foi. mas diferentemente de uma estética pop do nostálgico, em que é como se imaginássemos adolescentes vivendo paixões ou melancolicamente sentados em alguma calçada, aqui o nostálgico do não vivido é pessoal, aqui o não ser vivido encontra se.


postado em 30 de setembro de 2022, categoria crônicas : , , , , , , , , ,

saudosos quitutes

1. no começo da avenida brasil, em sua primeira esquina após a praça floriano peixoto, existe a gruta, lanchonete lendária por seus pastéis. entre as 7h e as 8h e entre as 9h e as 10h, aproximadamente, eram produzidos pastéis de queijo e de carne, de sabor e leveza ainda hoje não superados. como era o melhor pastel da cidade e a gruta nunca deixou de ser uma lanchonete muito modesta, o item barato e incrível acabava em minutos. de modo que já me vi, em ocasiões, sentado a ler, tomando café queimado, esperando pela próxima sessão. depois do fatídico anúncio do abandono da função de pasteleiro pelo encarregado, há quem tivesse tentado lançar #voltapastel como uma exigência necessária, mas eram poucos. o funcionário permaneceu impávido. não admitindo fazer menos que o perfeito, atribulado pelas exigências da excelência, optou pela aposentadoria contra continuar a angustiar-se com uma arte tão efêmera e ao mesmo tempo, que ele mesmo considerava simples demais, em sua excessiva humildade.

2. recentemente a padaria ping pão santa rosa anunciou que deixara de fabricar o biscoito de fécula de mandioca em formato de ferradura. fomos eu e carol bradar indignação, alternadamente, evitando sermos identificados como um casal, e comunicando a funcionários diferentes. o ferradura, melhor biscoito já produzido em toda a belo horizonte, combinação perfeita da força da textura com a sutileza na gustação, em uma forma robusta, até mesmo um pouco bruta na sua secura, mas que por isso mesmo era toda uma experiência. disseram, nas repetidas vezes, que ele não saia, ao contrário do palito. mas os pequenos palitos, por forma e tamanho, acabam se assemelhando demais a derivações do pão de queijo, além de promoverem a insaciabilidade do que pede sempre por mais um. seríamos os únicos a perceber isso? decadência do paladar mineiro, a recusar cada vez mais categoricamente tudo que não é de fácil mastigação?

3. existe algo muito peculiar em chegar no bar do nelson, no bairro santa inês e pedir o famoso torresmo, cortado em tiras retangulares precisas e finas, em um formato não apenas surpreendente mas impensável para quem nunca teve a oportunidade de pedi-los com sucesso. creio que ainda hoje se pode ir lá, mas como matthias, que morava perto, mudou-se para berlin, perdi o costume. a questão, entretanto, é que era preciso chegar cedo. muito cedo. pois quantas vezes pudemos ouvir, na voz caracteristicamente rouca, quase esofágica do garçom, que já tinha acabado? seria preciso agendar o torresmo? se já saia um, entoávamos, que venham logo três. e noite adentro, a corrida contra o tempo. acabado o torresmo (três porções era o deleite), outros itens, não tão impressionantes mas bastante apetitosos, iam, um por um, esgotando, até que na formulação afônica do simpático atendente nada restasse. não tem mais nada, dizia. nada, isto é, pra comer. continuávamos, ao estilo da marina, na cachaça.


postado em 16 de junho de 2022, categoria crônicas : , , , , , , ,

terceira dose

na segunda descubro que a vacinação avança em belo horizonte. 57, 58, 38, 27 e 28 anos podem ir se vacinar. três gerações quiçá? o que aconteceu com o 47, queria saber.

chego no posto são geraldo, vou a pé, na chuva. tudo é muito tranquilo e fácil. à noite entretanto, pouco antes do encontro virtual com paulo para jogar papo fora, 話をかける, a dor no braço faz-se nítida. logo intensifica e na hora de dormir está intensa a ponto de forçar insônia. a febre bate e dura um dia inteiro. a dor intensa no braço, três.

comento com paulo no segundo dia de pfizer e ele diz que há um lado bom: está funcionando. comento com carol e lembro que havia tirado onda das suas queixas quando da primeira dose. digo: talvez seja reflexão kármica, minhas primeiras doses foram coronavac.

vou à farmácia e o farmacêutico confirma: é isso mesmo, acontece. tenho dipirona vencida (jogo fora), pomada analgésica (passo duas vezes ao dia) e compro salompas (minhas costas sempre travam nessas situações). na hora de explicar, entretanto, solto um: tomei uma vacina da pfeifer.

agora, notem, pfeifer, referente à sílvia pfeifer, grafa-se assim mesmo. michelle pfeiffer, entretanto, tem na grafia um efe a mais. na praia de copacabana mítica cyberpunk de fawcett (de santa clara poltergeist) é a primeira que tem seu rosto projetado em telões de 300 metros, a fim de acalmar o populacho.


postado em 14 de janeiro de 2022, categoria crônicas : , ,

daqui a uns meses

em junho de 2020, o que agora é visto como parte do início da pandemia, eu escrevi uma postagem imaginando um devir otaku do mundo, pra mencionar a expressão da christine greiner.

1. 仮面ライダーの変身 (poses dos kamen riders).
2. dancinhas ridículas.
3. babymetal (turning japanese).
4. offline 自殺 (suicídio-desconexão).

como naqueles memes em que o que se espera é meramente uma projeção fantasiosa do real, eu me vi começando a cultivar um jardinzinho, aprendendo a tocar flauta 尺八, preferindo os encontros dos grupos de estudo e seminários virtuais do que os presenciais e pedindo vegetais orgânicos pra entrega.

então, para dar conta desse descompasso, fui impelido a fazer algo que o expressasse. “quando a vida não entrega, temos a arte”. e essa é a explicação da cena do pandinha dançarino no QI147. stay home and パラパラ.


postado em 16 de agosto de 2021, categoria crônicas, dança : , , , ,

crônicas da municipalidade #1

tenho horário marcado no bhresolve. é a segunda vez que vou. na primeira, apenas solicitei a data. fui tudo bem, exceto que não levei envelope. precisa sempre levar o envelope não se esqueça, está anotado no site, vou quebrar seu galho, mas precisa, pra colocar os documentos dentro viu? então, esperei a aprovação da solicitação. aprovada a solicitação, fui ao primeiro batalhão da pm, solicitar, dessa vez, policiamento. mesmo sendo evento mínimo, você deve solicitar policiamento. lá, a delegada (?) me perguntara, é praça 7 né, e eu distraído sim, mas não, não é, o evento é praça 6, a localização é que é praça 7 (aquela coisa da “minoração”). enfim, não, não risque o nome do evento no documento de solicitação de policiamento, por favor, e ela rabisca de volta 6 em cima do 7 rabiscado em cima do 6. depois, guias gam e comprovantes de pagamento das guias gam. sim, pra prover arte pro município a gente tem de pagar e enfrentar a prefeitura, cuja tarefa aparente é cobrar e dificultar o fornecimento de arte e cultura ao município. agendamento e aqui estou, já confirmei minha senha na fila para atendimento de confirmação de senhas. agora é só esperar (costuma ser rápido). srr09 guichê 11, uma loira cara de seleta (terceiro reich mineiro). entrego papéis, por que não deixou já tudo organizado e separado? e também dou-lhe o envelope pra colocar todos os documentos dentro. olha, são dois eventos e não um, precisa de duas documentações, você não trouxe, agende outra data e venha com duas, pera lá, mas eu não entendi isso, é um evento, praça 6, 17 e 24 de agosto, um evento em duas datas. rapaz, leia as informações, praça 6 #5 um evento, o outro praça 6 #6, esse é o significado de evento,volte quando estiver tudo lido e preenchido (eu li e preenchi, ao meu ver), então sem duas cópias do rg, do autocad da praça, da solicitação de policiamento, e os formulários e gams e comprovantes de pagamento gam, esses estão aqui mas as cópias não. precisa de dois envelopes também? não. então você vai colocar coisas duplicadas num envelope só. é, então você agende de novo e no próximo dia traga todos os documentos. mas moça, por favor, por favor etc, só vou até ali e xeroco, e ela reluta mas diz que sim, vai abrir uma exceção, mas olhe lá e preencha e separe absolutamente tudo antes de voltar no guichê dela (de modo algum seria impertinente de sugerir que ela use a foto-copiadora logo atrás dela, não sou louco). eu desço e é claro, especulação foto-copista, três páginas, a 1$50 ou no mínimo 90 centavos, é o quarteirão do esqueci a cópia disso e daquilo, no entorno do bhresolve, muita demanda, mas saco a moeda grande pago e subo, separo com um clips e entrego. ela aponta, isso aqui não tá preenchido, é o maldito x do “não temos gerador de energia”, espero muito que não tenhamos de ir ainda à cemig, pra eles, como diz meu colega, cobrarem caro pra fazerem um “gato legal” e assim liberar um ponto de energia, gosto muito mais da ideia da banquinha. ok, x, e agora bom humor, já é outra pessoa, seria a dose de sadismo burocrático diária necessária, já passou a cota, agora é só um trabalho, pegar, digitar, fazer piadas com as colegas, que bom, eu penso, se bem que ser mal humorado num ambiente daqueles é ruim pra mim mas eticamente correto, não? e enquanto pego os protocolos olho que ela usou um outro envelope, não o meu.


postado em 18 de julho de 2019, categoria crônicas : , ,

resquiescat in pace, rufo

como me falta aquela empatia que me tornaria susceptível de enfrentar a morte com calamidade ou tristeza, restam me os pequenos momentos de melancolia, das situações habituais contrariadas. não que a morte em si não seja insólita. o recolhimento e a recusa à alimentação, o resultado que torna a espera e a inação distantes e incongruentes, o endurecimento do corpo, o som das varejeiras que o rondam, o seu peso tornado puramente físico, sem tônus, sem resistência a favor ou contra. tudo isso conta para como que uma suspensão da experiência na experiência. mas daí, justamente, não há propriamente sentimento, entendido como emoção sedimentada.

só que depois os pequenos acontecimentos acumulam: chegar em casa e não ter ninguém a esperar, ou então andar no corredor e não vê-lo deitado ao lado, preguiçosamente; então, não chamá-lo para que siga vagarosamente, com o excesso de prudência característico. devo segurar o olhar, retesar o dedo que estalaria, engolir o nome não proferido. a estranheza de abrir e fechar as portinholas da varanda, na falta da necessidade de demarcar e impedir. a bacia seca que nunca dará mosquitos, os pombos que não visitam a ração não comida que não mais há, e a raiva que deles eu tinha, em mim ameaçando mas tão logo dissolvendo-se ao não achar objeto. a súbita lacuna e a desistência de ler na rede, sem ele a rondar, em sua perturbação indecisa; o chão vazio, limpo, sem esperneios bizarros, interessantes; os lugares mais frescos, deixados aos tatus bola. sobretudo o silêncio noturno, a ausência de roncos, o sono desacompanhado, a escuta a procurar o ritmo ressonante e só encontrar desconfiança, a imaginar seres que preencheriam sua falta.


postado em 15 de fevereiro de 2019, categoria crônicas : , , , , ,