Pura velocidade? Redline vs Mad Max Fury Road

Será que é possível fazer um longa metragem que seja pura velocidade? Para aproximarmo-nos disso, dentro de uma estrutura narrativa: que existam motivos para correr, mas que eles sejam bastante simples, superficiais, manjados – um terreno limpo que justifique embarcarmos em uma corrida. Mas também, no meio dessa, os oponentes são apenas um meio para o esforço de estar cada vez mais veloz, um esforço que em seu ápice atinge a calma em meio ao caos: não mais vencer, ultrapassar, mas a intensidade do deslocamento: a velocidade, ou melhor – o cerne dessa – a aceleração em si. Explosões de linhas e de cores ou então a estaticidade de um momento feito imagem mágica; um instante em que só é possível a câmera lenta, como montagem especulativa de uma derivada dupla (o ponto em que há a máxima aceleração).

É verdade que Redline parece-se muito com o excelente filme das Wachowski para o clássico Speed Racer, lançado quase ao mesmo tempo (2009 e 2008, mas a animação de Katsuhito Ishii demorou 7 anos pra ficar pronta, então provavelmente foi elaborada primeiro). Mas Redline é mais econômico (há colegas, mas não família, há graça mas não personagem cômico, há amor, mas o amor do amor é a corrida), e opta por ser mais rápido, mais superficial e por reduzir temas desenvolvidos em Speed Racer ao estatuto de mera menção (o caso da máfia, as questões de legitimidade e capitalização em corridas). Assim, pode também ser mais mirabolante e estrambótico: é um anime, afinal. E assim pode fornecer uma maravilhosa cena de espírito desportivo, sem as ambiguidades que rondam o filme Hollywoodiano.

Mad Max Fury Road usa genialmente a alegoria, integrada ao tema da velocidade: é na jornada rumo ao paraíso, ao prometido, à vida melhor, ao sonho de um lugar melhor, que ocorre a duro compreensão de que desde sempre era preciso mudar onde já se estava (e então o retorno e o final à lá Édipo: <agora começa o real trabalho, aquilo a ser feito após o destino>. Ou seja, o filme traça o arco filosófico da jornada em que a utopia é o combustível necessário para a mudança, nos levando ao mais distante para então retomarmos o mais próximo. Só que esse traçado precisa da corrida e da velocidade para desenvolver-se, porque o pensamento em MM4 é sempre exterior e da ação (assim, não é um conteúdo que atrapalha o filme, mas o complementa “de dentro”).

Em relação a Mad Max, Redline pode contrapor sua ênfase na individualidade e no esforço de auto-superação contra o impessoal (o circunstancial, o acontecimento) que traz a velocidade pelo desespero, de Fury Road. Redline traz oponentes e uma velocidade atingida para si, na busca da vitória. Mad Max traz inimigos e uma velocidade imposta como condição de sobrevivência. No fundo, tanto o triunfo quanto a vida pouco importam.

{REDLINE, filme de animação de 2009, dir. Takeshi Koike, nota 9/10; Mad Max Fury Road, filme de 2015, dir. George Miller, nota 9/10}

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